
Fortaleza
(In) Movimento

Curiosidade:
Em 2010 a bicicleta foi nomeada pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o transporte ecologicamente mais sustentável do planeta. Em algumas capitais europeias como Dublin e Amsterdam, é utilizada como um dos principais meios de locomoção da população. Copenhague, por exemplo, é a cidade mais ciclável do mundo.

Você Sabia?
É normal utilizar os termos “ciclovia” ou “ciclofaixa” para qualquer espaço destinado às bicicletas na cidade. Mas, você sabia que existe diferença entre os dois? As “Ciclovias” são as vias que ficam ao centro da rua/avenida, enquanto as “Ciclofaixas” são as que ficam nas extremidades da rua.
Benefícios à saúde
50% de redução no risco de
desenvolver doenças cardíacas
desenvolver diabete adulta;
se tornar obeso;
30% de redução no risco de
desenvolver hipertensão;
Declínio de 10/8mm Hg na pressão sangüínea em assuntos de hipertensão (um efeito similar àquele obtido por drogas anti-hipertensão)
Redução da osteoporose
Alívio dos sintomas de depressão e ansiedade
Estímulo aos músculos das vétebras dorsais (costas), coxas e glúteos;
Estímulo ao sistema imunitário e aumento do número de glóbulos brancos;
Diminuição do mau colesterol e da obesidade
Terapia para depressão, estresse, violência, déficit de atenção e ansiedade.
a para-atleta Fah Fonseca conhece de perto as dificuldades que é se deslocar pela cidade, que não é preparada para cadeirantes. Foto: Arquivo pessoal
Bicicletas se consolidam
como modal da nova era
Em Fortaleza a procura pelo novo modal movimenta cada vez mais a população.
Por Clarissa Silvino, Ivina Maciel, Lívia Holanda e Marcella Ruchet
O ritmo frenético do trânsito nas grandes metrópoles brasileiras, fez com que a população procurasse aderir modais alternativos de transporte para facilitar o deslocamento diário. Em Fortaleza são 91,5km de malha cicloviária, adquirindo, assim, o posto de maior corredor entre as capitais nordestinas. Segundo observação da reportagem e dados que poderão ser visualizados no decorrer do texto, as ciclofaixas são, de fato, utilizadas pela população, contrariando parte do senso comum. Essa informação é comprovada a partir do aumento pela procura por produtos ciclísticos em Fortaleza e em novembro a cidade entrou na era do compartilhamento de bicicletas.
Atualmente, cerca de 7% dos brasileiros adotam a bicicleta como meio de transporte principal, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Um dos pontos positivos da utilização de ‘bikes’ é sua contribuição para a diminuição do impacto da poluição no meio ambiente, além disso, possui diversos benefícios para a saúde. "Quem opta pela bicicleta não pensa só em economizar tempo, mas na melhoria da saúde, da qualidade de vida, na preservação do planeta e em modificar um modelo político-econômico. Na bicicleta tudo o que você precisa é uma garrafinha de água e uma fruta, para ir pra qualquer lugar", afirma João Alves, ciclista e analista de mídias digitais.
Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito, Denatran, Fortaleza possui a maior frota de veículos automotores do Nordeste. Em números atuais, ao longo de dez anos, a capital aumentou sua frota em 108,4%. Dessa quantidade, a maior parte são carros e motocicletas. Cristine Jucá é motorista e diariamente passa pela rua Ana Bilhar, ela assume que no começo não concordou com a ciclofaixa, mas que hoje não vê problemas, apenas soluções. “O engarrafamento na via não é causado pela ciclovia, mas pela enorme quantidade de carro nas ruas. Se aderíssemos à bicicleta, o engarrafamento diminuiria”, aponta.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, ao levarmos em conta apenas os veículos particulares, que representam 93,7% da frota, podemos observar que Fortaleza já alcançou a inédita marca de um veículo para cada 3,4 habitantes, sendo considerada a 8ª cidade do país em termos de frota. “É preciso procurar transportes alternativos ao carro ou melhorias na mobilidade urbana para que a cidade não entre em colapso”, explica Gizella Gomes, arquiteta urbanista, atual Secretária de Urbanismo, Patrimônio Histórico e Meio Ambiente, na Prefeitura Municipal de Sobral.
Com objetivo de priorizar o transporte não motorizado e de qualidade, a Prefeitura de Fortaleza está desenvolvendo o Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI), que irá estimular o uso de bicicletas, através de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, possibilitando redução emissão de carbono, segurança aos ciclistas com espaços específicos para eles.
O PDCI vai regular as ações cicloviárias da cidade por um período de 15 anos. O plano prevê 524km de rede cicloviária até o ano de 2030. Para a realização do plano, especialistas da Secretaria de Infraestrutura de Fortaleza (Seinf) e membros de grupo de ciclo-ativistas participaram de reuniões públicas. O PDCI foi entregue pelo prefeito ao presidente da Câmara Municipal, para que seja votado até o dia 30 deste mês.
Reportagem passa quatro
dias monitorando ciclofaixas
Durante 48 horas a reportagem se prontificou à observar as ciclofaixas instaladas nas ruas Ana Bilhar e Canuto de Aguiar. A “vigília de bikes” aconteceu durante 12O horas diárias, entre às sete horas da manhã e às sete da noite. E a realidade do número contradiz o que uma parte da população afirma: que as ciclofaixas não têm real utilidade para a cidade de Fortaleza.
A tarefa foi árdua, mas valeu a pena quando descobrimos o número de bicicletas que passam pelas duas ruas nesse período de tempo: 1.109. Cerca de 23 “magrelas” a cada hora, ou de um ciclista a cada dois minutos e meio. Segundo pessoas que trabalham próximo às duas ciclofaixas o fluxo de bicicletas aumentou visivelmente, e o gerente de operações da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), Disraeli Brasil confirma isso. “Antes o número de ciclistas que frequentavam as vias, sem as ciclofaixas, eram cerca de 16 a cada hora.”
A ciclofaixa na Ana Bilhar foi instalada em setembro do ano passado, já na Rua Canuto de Aguiar a instalação ocorreu no mês de outubro no mesmo ano. Na época houve muita polêmica a cerca das instalações. Motoristas discordavam alegando que a separação entre carros e bicicletas não servia para nada além de diminuir a via de circulação de veículos. Mas não apenas o número contabilizado na contagem mostra o contrário, como também a opinião da população.
Exemplo disso é a publicitaria Vânia Costa, que desde a instalação das vias para ciclistas, deixou o carro em casa e agora pratica exercício sob duas rodas, utilizando tanto a via da Ana Bilhar quanto a da Canuto de Aguiar. “Não tem academia melhor, faço um percurso de 4,2 km em 25 minutos e apoio totalmente a implantação de ciclofaixas.”
A má educação refletidano mau uso das ciclofaixas da cidade
Mas se engana quem pensa que apenas ciclistas fazem uso das ciclofaixas. Nas 48 horas de contagem foi possível constatar que diversas irregularidades acontecem nos locais que são de uso exclusivo de quem pedala. É o caso das motos.
Durante o período de observação da reportagem foram contabilizadas 540 motocicletas trafegando nas ciclofaixas. Mais da metade do número de bicicletas que passaram por elas. E 251 carros invadiram o espaço das bikes, causando confusão nas vias. Além de prejudicar o trânsito, essas infrações estão passíveis de punição. Para aqueles que desrespeitam as ciclofaixas a multa varia entre R$127,00 a R$574,00. Por exemplo, a infração para motos e carros que trafegam nas ciclovias é considerada gravíssima, gerando uma multa no valor de R$574,61.
Além de 540 motos, passaram pelas ciclofaixas 251 carros e um dado curioso: 21 catadores de lixo que aproveitaram o menor fluxo no local, para trafegar com mais facilidade. E ainda tem gente que aproveita a ciclofaixa para praticar outros tipos de exercício: duas pessoas passaram fazendo cooper. Foram ao todo 1.109 bicicletas, das quais 549 passaram na ciclovia da rua Canuto de Aguiar e 560 na rua Ana Bilhar, provando que ambas as vias são bastante utilizadas.
Cresce a demanda por produtos ciclísticos
Em decorrência da recente ampliação da malha cicloviária da cidade, realizada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, houve um aumento considerável da procura de produtos ciclísticos.
Em várias lojas espalhadas pela cidade, desde bairros periféricos como o Siqueira até bairros mais centrais como a Aldeota, pode-se encontrar diferentes tipos de ‘bikes’ e produtos afins, tais como: capacetes, óculos e vestimentas especiais além de lanternas, pedais, celas, pneus etc.Com os investimentos realizados, a fim de estimular o uso do transporte público e de modais alternativos, a prefeitura instalou, em algumas das principais ruas e avenidas da cidade, faixas exclusivas para ônibus e bicicletas.
Os grandes centros urbanos enfrentam problemas diários com os engarrafamentos devido a priorização do veículo particular em detrimento do coletivo. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2013, indicam a estimativa de que existe um carro para cada 4,4 pessoas no Brasil. Por isso, algumas metrópoles nacionais buscam inverter essa lógica automobilística.
O aumento na venda de produtos ligados ao ciclismo, tem gerado expectativas nos empresários do ramo. Em uma loja do município, localizada no bairro Edson Queiroz, especializada em produtos para ciclistas, segundo o proprietário, José Andrade, as vendas de bicicletas cresceram em 30% nos últimos dois meses, o que, em termos quantitativos, representa o equivalente a venda de 250 bicicletas por mês.
Os preços das ‘bikes’ variam entre R$ 350 a R$ 16.000. A procura por produtos de qualidade, trouxe uma maior preocupação dos lojistas com esse novo segmento de público. As bicicletas mais caras são feitas de materiais leves como fibra de carbono e são, em sua maioria, procuradas por atletas que participam de competições e maratonas.
Fortaleza entra na era
do compartilhamento de bikes
A fim de oferecer uma opção sustentável ao uso de carros e motos, a Prefeitura de Fortaleza deu início à proposta de compartilhamento de bicicletas, iniciativa que deu certo em outras capitais do país como Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Além de ser um meio de transporte alternativo, a utilização das “bikes” contribuem significativamente para a redução da poluição atmosférica e do congestionamento no trânsito.
Para utilizar as bicicletas compartilhadas, os usuários devem se cadastrar no sistema que pode ser feito pelo site da prefeitura ou pelo aplicativo Bicicletando para smartphones ou ligando para a central telefônica de atendimento. Cada usuário poderá optar pelo pagamento de taxas diárias de R$ 5, mensal de R$ 10, ou anual de R$ 60, de acordo com suas necessidades. O passageiro que possuir cadastro no ‘Bilhete Único’ estará isento da cobrança de taxas.
A Associação de Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida) é favorável à iniciativa da prefeitura. “Nós participamos de reuniões com os técnicos do Paitt e acompanhamos todo o processo de planejamento. Eles (técnicos) estão estudando o assunto de forma profunda e se espelhando em outras cidades que implantaram o sistema”, explica o diretor-presidente, Celso Sakuraba. Sobre a escolha dos pontos há ressalvas.
“O sistema de compartilhamento de bicicletas geralmente só atua nas regiões centrais da cidade. Um cidadão que mora no Bom Jardim, por exemplo, não vai ser contemplado. A justificativa dada é que expandir para as regiões mais periféricas não é vantajoso para a iniciativa privada. Temos que mudar isso”, sugere.
O ciclista terá direito de utilizar a bicicleta durante uma hora e deve devolvê-la nesse período em qualquer uma das estações respeitando o intervalo de 15 minutos, entre o primeiro aluguel e a segunda retirada facilitando a dinâmica de acesso do modal para outros indivíduos. Atualmente, Fortaleza conta com aproximadamente 91,5km de infraestrutura cicloviária, dividididos entre 16,5km de ciclofaixas e 75km de ciclovias. Está previsto no Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI), ainda em fase de conclusão pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, a implantação de mais ciclofaixas e ciclorrotas para apoio ao Sistema de Bicicletas Compartilhadas.
Erich Soares, estudante de Ciências sociais, é membro do ‘Fórum Direitos Urbanos’, grupo no Facebook que promove discussões importantes sobre temas ligados a infraestrutura urbana e meios de transporte faz uma crítica ao fato de o Plano Diretor Cicloviário (PDCI) não abranger as regiões sul e oeste do município.
“Este é o caso também do PDCI , que além ser localizado em regiões já mais bem estruturadas, que concentram a maior parte dos invertimentos do Estado, prevê a implantação de 400km de estrutura cicloviária num pífio prazo de 15 anos. É um prazo muito longo para um processo relativamente simples que pode garantir segurança a muitas vidas num trânsito tão brutal e desumano” explica o estudante.
Já estão funcionando 15 das 60 estações previstas, nas quais estarão disponíveis 150 bicicletas para serem utilizadas por turistas e moradores da capital cearense. Está previsto até o final de 2014 a conclusão de ciclofaixas nas ruas Carlos Vasconcelos, Padre Anchieta, José Cândido, Deputado Moreira da Rocha e avenida Rui Barbosa. Os primeiros pontos de apoio para retirada e devolução de bicicletas estão localizados em quatro pólos da cidade: avenida Beira-mar, Praia de Iracema, Aldeota e Meireles.
Patrocínio garantido e proteção contra furtos
Segundo o secretário de Conservação e Serviços Públicos, Luiz Alberto Sabóia, os investidores “terão que apresentar cartas de patrocínio e cumprir todos os requisitos e especificações técnicas do sistema de bicicleta que estão especificados no edital, como por exemplo a integração com bilhete único, os preços que estão indicados no edital e os tipos de bicicleta”, informa. Em entrevista publicada no dia 21/10 no jornal O Povo, Luís Alberto Sabóia afirmou ainda que as bicicletas terão dimensões exclusivas, a fim de evitar possíveis roubos. “Se houver um furto para retirar as peças, não adianta, pois as peças dessas bicicletas só servem nelas mesmas” concluiu o secretário.
A empresa Sertell ficará responsável pela operação do sistema nessa primeira etapa que contempla 40 estações. A Unimed de Fortaleza, será a empresa patrocinadora da construção dos pontos e até janeiro de 2015 serão, no total, 400 bicicletas disponíveis para uso compartilhado. De acordo com o secretário, as mesmas instituições que prestaram serviços na primeira fase do projeto podem permanecer para uma próxima etapa, caso exista interesse e disponibilidade.






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