Dossiê Voluntariado - Oficina de Jornalismo • Unifor 2015.1
A medicina sob outros horizontes




“O MSF tem espírito voluntário, só que é profissional. Todo mundo é submetido a um rigoroso processo de seleção e recebe salário, embora abaixo do mercado”
Diante de conflitos territoriais, epidemias, desastres naturais e outras adversidades, a ajuda humanitária internacional se tornou indispensável para a reconstrução e a manutenção de diferentes povos e culturas. Nesse contexto de limitações, a solidariedade surge como um fio de esperança àqueles que já não tem mais a quem recorrer. “Muitos pacientes ficam felizes só de serem atendidos por uma médica mzungu (estrangeira) que se preocupa com eles”, conta a médica cearense, Aline Studart Barbosa, de 31 anos, que está em uma missão no Quênia desde outubro de 2014.
Mesmo com as dificuldades estruturais e cotidianas, como se comunicar em um país onde são faladas 42 línguas, para Aline o trabalho que desempenha no continente africano é a realização de um sonho que surgiu ainda na vida acadêmica, ser integrante de Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma organização independente com mais de 34 mil profissionais de diferentes áreas que leva ajuda à realidades negligenciadas. "Na primeira vez que ouvi falar sobre Médicos Sem Fronteiras fiquei encantada com a ideia e com o trabalho realizado pela organização. O MSF tem espírito voluntário, só que é profissional. Todo mundo é submetido a um rigoroso processo de seleção e recebe salário, embora abaixo do mercado", esclarece.
A sensibilidade de lidar com a pobreza extrema faz parte do dia a dia da clínica geral que faz atendimentos e disponibiliza medicamentos gratuitos para uma população que, em geral, só consegue fazer no máximo uma refeição diária e vive abaixo da linha da pobreza segundo dados da ONU. Um fato que surpreendeu Aline foi como o sistema de saúde é excludente no país."Os hospitais públicos cobram dos pacientes cada exame, consulta e procedimento. Quem não pode pagar (que é a maioria), não será atendido nos hospitais do governo, nem mesmo em casos de emergência".
O contato com a comunidade já era constante na vida da cearense. Antes de participar do projeto internacional, a médica trabalhou como voluntária em uma casa de apoio a crianças com câncer, em um abrigo infantil e em uma favela em Fortaleza. No Quênia, ela supervisiona o departamento de pacientes ambulatoriais, doenças crônicas e nutrição, ensina, atende os pacientes mais graves, além de fazer relatórios e participar de reuniões para decidir sobre o destino da missão. O que ela considera mais gratificante? “Saber que consigo fazer a diferença na vida de muitas pessoas. É sempre muito bom ouvir “Asante sana!” (muito obrigada, em suaíli) dos pacientes.”
Diversidade de tribos e problemas relacionados à violência não são obstáculos que diminuem a vontade de Aline em doar o conhecimento que adquiriu com coragem e amor ao próximo. Estando na metade do período que ela sonhou em trilhar no MSF, convivendo com diferenças culturais e aprendendo com as dificuldades, ela afirma que é compensador e pretende continuar. “Vou voltar com a sensação de dever cumprido e com a lição de que sempre temos que lutar pelos nossos sonhos, por mais estranhos que possam parecer; de que há muita gente precisando de ajuda em vários cantos do mundo e que devemos sempre dedicar uma parte do nosso tempo ao próximo (seja no Brasil ou em qualquer outro lugar)”.
