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Voluntário pelo mundo: Experiências internacionais de quem faz a diferença

 

Abandonar o conformismo de uma vida regrada a prazeres imediatos e colocar-se no lugar do outro, ajudar pela satisfação de se fazer útil, ativo e ouvinte. Segundo definição adotada pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), voluntariado “ é o jovem  ou adulto, que devido a interesse pessoal e espirito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos”. No ano de 2014, uma pesquisa realizada pela organização  britânica Charities Aid Foundation- CAF  colocou o Brasil como um dos 10 países com o maior número de voluntários, cerca de 24 milhões de pessoas.

 

Dentro desse panomara está a estudante cearense de publicidade e propaganda, Bianka Alencar, de 23 anos, que em 2013 realizou trabalho voluntário de duas semanas na Guiné-Bissau através da ONG Jocum (Jovens com uma missão). A jovem fazia parte de uma equipe formada por médicos e dentistas que tinham como missão levar atendimento qualificado para as comunidades locais, além da distribuição de donativos no país.

Na Guié Bissau, em 2013
“Em apenas 30 horas regredi décadas do tempo.”

A universitária recordou com desalento os primeiros dias de viagem “Em apenas 30 horas regredi décadas do tempo. Foi extremamente doloroso dimensionar o que era a pobreza naquele lugar. Saber que a economia do país decai 1,5% do ano não significa nada. As pesquisas sobre a expectativa de vida, que não ultrapassa os 50 anos, e a média de escolaridade de 2,3 anos são meras estatísticas.

 

"Aos poucos fui sentindo a necessidade do povo. O país não tem luz, água ou fonte de renda.  Um dia, conversando com o único obstetra local, fiquei sabendo que a disparidade social é fruto da mínima parcela rica da região. Na maioria dos casos, o dinheiro investido em saúde (1% do valor  do PIB) é desviado para subsidiar os estudos dos filhos da burguesia em Portugal.”

 

Bianka contou ainda, que alguns meses antes da viagem, reuniu bolas e bonecas com a ajuda do namorado para doação. “Era gratificante sair das tabancas, como são chamados os vilarejos locais, e ver dezenas de crianças felizes, correndo atrás do caminhão.  Entoando o grito de ‘branco, branco’.”

De acordo com Yuri Barreto, diretor de Marketing da AIESEC, Associação Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Comerciais, é crescente o número de interessados em viajar e se inserir em outros contextos culturais. Através de um dos programas de intercâmbio voluntário oferecidos pela organização, a estudante de administração da Unifor, Júlia Mafran Sousa, de 23 anos, escolheu a cidade de Torun, no norte da fria Polônia, como destino para praticar ações de cunho sócio-educativo.

 

A intercambista comentou que a rotina de trabalho, durante as duas semanas, era intensa com cerca de seis hora diárias. O grupo formado por cinco pessoas atendeu 15 escolas onde abordavam, basicamente, o inglês e a cultura brasileira (festas populares, numerais, danças típicas) e era destinada a crianças de 4 a 6 anos de idade.

 

Júlia garantiu que falta de domínio da língua não foi um problema e a experiência  proporcionou mudanças significativas no seu dia a dia. “As crianças com certeza foram meu maior presente. Nos comunicávamos através de gestos e sorrisos, já que não falávamos o polonês, só o inglês com as professoras que entendiam o idioma. Aprendi a respeitar e não julgar a cultura do outro e acreditar que ainda há bondade. Várias pessoas nos ajudaram dentro e fora do trabalho. Os poloneses são pessoas muito agradáveis, carinhosas e prestativas.  O trabalho voluntário é algo que eleva a alma e receber um ‘ Djenkuie’ – ( muito obrigado)  de coração não tem preço”, destacou.

Em Torun, na Polônia, em 2013

"O trabalho voluntário é algo que eleva a alma e receber um ‘Djenkuie’ – ( muito obrigado em polonês)  de coração não tem preço"

Voluntário na Escócia, em 2011

"O trabalho voluntário demanda um espírito de doação, disciplina e profissionalismo".

Além de projetos encabeçados por ONG´s e associações, também existem alternativas para àqueles que desejam encontrar no desconhecido uma melhor versão de si mesmo. Esse foi um dos objetivos pessoais do estudante de comércio exterior, Leonardo Campos, quando resolveu se aventurar em um intercâmbio voluntário por conta própria. "Decidi por essa experiência porque buscava uma vivência no exterior que além de desenvolver minhas qualificações profissionais, também desenvolvesse minhas qualificações humanas".

 

O jovem pesquisou as possibilidades que se encaixavam com suas perspectivas e viu no Movimento Camphill, comunidade internacional para pessoas com deficiência de aprendizagem, a oportunidade certa para por em prática a ajuda ao próximo.

 

 

Com a ajuda da irmã, resolveu as questões burocráticas e escolheu a comunidade na cidade de Perthsire, na Escócia, pois era um país que ele admirava e onde já conhecia alguns brasileiros. Apesar da inexperiência, Leonardo afirma que não teve dificuldades porque estava seguro do que buscava. "Me dediquei a organizar tudo que era necessário para que este sonho se realizasse", relata.

 

Ele permaneceu durante um ano na comunidade, realizando atividades diversas em oficinas terapêuticas como fazenda, padaria e treinamentos sobre doenças mentais.  "O trabalho voluntário demanda um espírito de doação, disciplina e profissionalismo. Quando cheguei com meu estilo brasileiro extrovertido, parecia que tudo era brincadeira, mas depois de um tempo fui me adaptando à seriedade que é trabalhar ajudando outras pessoas."

 

Na bagagem ele garante que trouxe uma lição: "(...)realmente somos todos iguais do ponto de vista da existência. Não importa nosso país de origem, se somos saudáveis ou portadores de deficiência, sentimos felicidade por aceitar a nós mesmos e ao outro da maneira que ele é", pontua.

 

Existe um denomidador comum entre as experiências de quem sai da sua zona de conforto e se proprõe a viver outros costumes, sejam eles em países desenvolvidos como a Polônia ou em regiões mais precárias como as do continente africano. A sensação de plenitude ao desenvolver um trabalho voluntário e adquirir novos conhecimentos na prática humanitária possibilitam uma bagagem cultural maior, assim como, outras formas de ver o mundo, livres de preconceitos e abertas a oportunidades futuras.

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